Segurança informática em auditoria |
3. Análise de risco na auditoria da segurança informática
Apesar da existência de uma infinidade de standards em permanente actualização que acompanham o ritmo de evolução das tecnologias de informação e comunicação, ainda não existe uma metodologia aceite generalizadamente para a auditoria da segurança informática.
A maior parte dos textos de auditoria informática abordam a questão do risco quando se fala em segurança. Isto acontece porque os riscos têm incrementado em espiral nos sistemas de informação desde que as tecnologias de informação foram adoptadas generalizadamente. A análise de risco está sempre orientada para proteger alguém, pode proteger o auditor ou pode proteger a empresa.
Actualmente existem várias correntes metodológicas, mas podemos reduzir todo o conjunto a duas grandes lógicas de acção, uma dirigida à protecção do auditor e outra à protecção da organização. Assumimos então que existem em auditoria informática duas visões do risco:
Vamos abordar a perspectiva da Análise de Risco da auditoria (protecção do auditor). Durante a minha experiência de ensino na área de auditoria informática, um dos processos mais fáceis de explicar a profissionais de informática o que se faz em auditoria, foi a utilização do Standard de Auditoria relativo à análise de risco. Por um lado, os profissionais de auditoria captam facilmente o problema dos anéis quando é apresentado na lógica da análise de risco porque a conhecem bem. Por outro lado, os profissionais de informática gostam de esquemas, usam-nos no seu dia-a-dia com tanta frequência que acabam por apreender rapidamente os conceitos transmitidos por esta via.
Observe o esquema seguinte preparado com base na norma dedicada à Avaliação do Risco em Auditoria, pode vê-la no site da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC) [11]:
Esta norma/standard de auditoria proporciona orientação aos profissionais de auditoria [12] na avaliação do risco de auditoria e seus componentes: risco inerente, risco de controlo e risco de detecção [13].
A norma coloca em primeiro plano o risco da auditoria para o auditor que é a entidade a proteger. A norma não é dirigida ao risco da organização na perspectiva global do COSO que refere o risco empresarial nos seguintes termos:
“Gestão do risco empresarial é um processo, levado a efeito pelo quadro de directores de uma entidade, gestores e outro pessoal, aplicado na definição da estratégia em toda a empresa, desenhado para identificar potenciais acontecimentos que podem afectar a entidade, e para gerir o risco mantendo-o em níveis aceitáveis, tendo em vista oferecer segurança razoável relativamente à concretização dos objectivos da entidade” [14]
A necessidade de determinação do risco vem referida no parágrafo 15 das Normas Técnicas de Revisão/Auditoria seguidas pelos ROC: “15. O revisor/auditor deve planear o trabalho de campo e estabelecer a natureza, extensão, profundidade e oportunidade dos procedimentos a adoptar, com vista a atingir o nível de segurança que deve proporcionar e tendo em conta a sua determinação do risco da revisão/auditoria e a sua definição dos limites de materialidade.”
O que se pretende dizer com o esquema é, em primeiro lugar, que o risco da auditoria provém de três fontes principais que podem ser decompostas noutras dimensões específicas como veremos mais à frente. Uma adaptação das definições com base no conceito de “susceptibilidade” na norma para a auditoria informática, ampliando o conteúdo de “dados financeiros” para “qualquer informação produzida por qualquer sistema de informação”, pode resultar nas seguintes definições:
Não estamos preocupados em analisar as TIC como instrumento de auditoria. Interessa-nos sobretudo a análise das TIC como fonte de risco para a auditoria.
As TIC intervêm como instrumento na avaliação de qualquer destes três tipos de risco associados ao risco de auditoria nos termos em que o definimos. As TIC são determinantes como condicionantes do risco em qualquer dos três tipos de risco (inerente, controlo, detecção), mas onde assumem um papel verdadeiramente decisivo é no controlo interno.
O controlo interno, montado tradicionalmente com base em encontros e desencontros de documentos nos circuitos de informação, ou através da comparação dos dados de várias fontes e circuitos, passou progressivamente para dentro do software e hardware. A célebre comparação da guia de entrada em armazém com a factura para autorizar a emissão do cheque, em muitos casos, já não pode ser feita com recurso ao papel porque o que existe actualmente são transacções gravadas pelo software em estruturas de dados complexas.
Hoje, não é possível avaliar adequadamente o controlo interno sem ter em conta as TIC, porque os dados circulam electronicamente e são tratados por software posto em acção por utilizadores autorizados pelo seu user/password que alguém deve gerir. Actualmente, há poucos sistemas de informação que não recorram a algum hardware e software. A análise dos referenciais internacionais usados em segurança informática é da máxima importância para quem precisar de fundamentar a sua opinião. Como os standards nasceram de motivações diferentes, algumas pouco relacionadas com a auditoria, revelam muitas zonas de sobreposição e várias perspectivas de abordagem em função das preocupações de cada grupo que as desenvolveu.
A abrangência e actualidade são determinantes na escolha de um standard para aplicar. O ISO/IEC 17799 tem-se mostrado irresistível porque é amplo e surgiu relativamente cedo na sequência de publicação e divulgação dos standards. O COBIT tem sido defendido pela associação americana Information Systems and Control Association [16] que se sustenta em milhares de auditores certificados de sistemas de informação (os CISA e os CISM [17]) e pela utilização de recursos electrónicos bastante ricos para os seus membros espalhados por todo o mundo.