O impacto da informação contingente em contabilidade e auditoria
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6.3. A importância do relatório de auditoria

Reconhecendo o papel importante dos auditores na sociedade actual, no sentido em que credibilizam a informação financeira, o próprio Parlamento Europeu aprovou uma resolução na qual afirma que "o público espera que o revisor oficial de contas contribua para a protecção dos interesses dos accionistas, dos credores, fornecendo-lhes, entre outras, garantias relativas quanto:

1) ao rigor das contas;

2) à continuidade da exploração/solvência da empresa (...)" [8].

Isto pode contribuir para que muitos dos utilizadores da informação financeira conotem, erradamente, a Contabilidade a precisão, que como vimos, pelo menos nesta temática, é tudo menos precisa. Assim, o uso do termo "rigor" talvez seja, em certa medida, um tanto abusivo. A própria AECA (1999, p.58) refere que "a representação fiel não é sinónimo de exactidão, uma vez que em certas ocasiões surgem dificuldades inerentes à identificação das transacções e eventos a registar ou à aplicação de técnicas de mensuração e representação". Ou seja, precisão e exactidão são tudo o que não podemos associar à Contabilidade e à Auditoria dos tempos de hoje.

O conteúdo daquela resolução contribui para "incendiar" a temática do expectation gap, aumentando as divergências de expectativas, entre auditores, responsáveis pela elaboração da informação financeira e os seus utilizadores, sobre o conteúdo do relatório de auditoria. As interpretações dos auditores em relação à aplicação apropriada ou não das normas determinam a informação que será fornecida aos utilizadores das demonstrações financeiras através do relatório de auditoria. Por outro lado, a interpretação de tal informação irá influenciar a opinião acerca da situação da empresa, podendo modificar as suas decisões de investimento. Se as opiniões dos auditores e dos utilizadores, sobre as interpretações das condições registadas no relatório de auditoria, não coincidirem, então os utentes da informação poderão interpretar mal o conteúdo.

O relatório do auditor não pode ser caracterizado com um certificado de veracidade, dado que tal seria dar como certa a informação financeira, quando a mesma contém, dada a sua própria natureza, julgamentos subjectivos os quais não podem ser objecto de certificação, no sentido estrito da palavra. Assim, o conteúdo do relatório de auditoria permitirá aos interessados conhecer a opinião técnica de um profissional, habilitado para tal, baseada em elementos de juízo disponíveis, sendo que a própria opinião é subjectiva, apesar de todas as tentativas no sentido da objectividade.

Segundo COSTA (1995, p.475), compete ao auditor "chamar a atenção dos destinatários para o modo como determinadas incertezas foram tratadas na informação financeira", nomeadamente as incertezas inerentes fundamentais, tais como o risco de as estimativas contidas nas demonstrações financeiras estarem sujeitas a alterações significativas, a diversidade de possíveis desenlaces da situação de incerteza, as consequências significativas dos desenlaces sobre a imagem proporcionada pelas demonstrações financeiras, as situações que ponham em causa, em certa medida, a presunção da continuidade da empresa e outras que possam ter efeitos materiais.

A subjectividade associada a algumas rubricas das demonstrações financeiras leva a que o auditor proporcione, através do seu relatório, "um grau de segurança aceitável ao destinatário da informação" [9] COSTA (1995, p.475). Ou seja, o relatório funcionará como um instrumento de credibilidade da informação auditada, denotando um papel social bastante significativo. Tal facto ganha maior pertinência quando estamos perante situações de incerteza, que sendo difíceis de julgar pelo auditor, o são ainda mais pelos meros utilizadores da informação financeira. Mas, esta função de credibilidade só é conseguida se a elaboração do relatório se basear numa postura de independência e integridade que o auditor deve manter sempre na sua actividade profissional. As decisões dos auditores sobre o conteúdo do relatório e as expectativas dos utilizadores em relação a essas decisões são influenciadas pela probabilidade do cliente vir a incorrer numa perda material. Mas, na prática torna-se difícil quantificar de forma precisa a probabilidade da perda ocorrer, envolvendo esta matéria numa ambiguidade que, conforma demonstram alguns estudos [10], influencia as decisões dos auditores e a visão dos utilizadores sobre os relatórios de Auditoria.

 
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