O impacto da informação contingente em contabilidade e auditoria
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6.2. Audit expectation gap

Todos estes problemas, que envolvem a Auditoria dos elementos contingentes e que questionam a fiabilidade das demonstrações financeiras contribuem para as diferenças de expectativas em Auditoria entre a natureza e alcance do trabalho do auditor e os anseios informativos dos utilizadores da informação financeira auditada. Tudo isto assume uma maior importância com a ocorrência de alguns escândalos financeiros, com consequências drásticas para algumas empresas, que incendiaram ainda mais a problemática do "audit expectation gap".

Na verdade, a informação contingente relaciona-se fortemente com a projecção das responsabilidades da entidade, que podem não ser reflectidas, sem existirem determinadas irregularidades ou mesmo fraudes, dada a subjectividade inerente às probabilidades e estimativas. Neste sentido, ALMEIDA (2002, p.410) refere que o "não assumir de responsabilidades pelo descobrimento de irregularidades ou fraudes, e o não comprometimento de diagnosticar a viabilidade futura da empresa", são "exactamente os dois componentes mais relevantes do chamado expectation gap". A decisão do auditor em incluir ou não certas notas nos relatórios de Auditoria, no que se refere a estas temáticas, pode divergir das expectativas dos utilizadores pelas mais diversas razões, entre as quais se destacam a utilidade dos resultados obtidos, as diferenças de julgamento acerca do que constitui uma perda material e as interpretações distintas do significado das palavras "remota", "razoavelmente possível" e "provável".

Alguns estudos [7] concluíram que o resultado das diferentes reacções à ambiguidade se prende com o facto de os auditores reagirem de uma forma menos favorável à inclusão de notas nos seus relatórios de Auditoria, enquanto que os utilizadores da informação financeira preferem e esperam que façam parte do conteúdo do relatório, tendo por base os mesmos factos, probabilidades e níveis de ambiguidade.

As tendências actuais, no sentido de esbater a amplitude de expectativas, apontam para um aumento das responsabilidades do auditor, ao pronunciarem-se sobre o pressuposto da continuidade, em que se obriga o profissional de Auditoria a desenvolver o seu trabalho na análise estratégica, onde o conhecimento do negócio, a compreensão da estratégia da empresa, e acima de tudo o risco do negócio, têm um valor fulcral. Ou seja, passa-se a auditar o futuro, o que desencadeia o desenvolvimento da informação financeira prospectiva, que afinal não é mais que o reflexo de uma estratégia futura da empresa. ALMEIDA (2002, p.413) afirma que "a incerteza dos negócios encontra a sua máxima expressão na própria sobrevivência da empresa". Deste modo, numa vertente evolucionista da Auditoria, os relatórios do auditor deveriam abranger o diagnóstico da viabilidade futura da empresa, para além de outras dificuldades existentes. A incerteza e a análise do risco do negócio são, cada vez mais, uma das vertentes da Auditoria presente e futura.

Mas, como refere GONZALO ANGULO (1996, p.12), quem tem de "auditar a informação encontra-se perante o facto de ter de descrever, adequadamente, não o passado mas sim o futuro, para o qual não está absolutamente preparado por parte da instrução económica e contabilística tradicional". O auditor tradicional possui condições de avaliação da incerteza dentro dos modelos perspectivados?

 
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